segunda-feira, 19 de setembro de 2011

GESTÃO CULTURAL

É notório que as diversas expressões culturais, como produtos sociais, são derivadas de algum tipo de organização de sua produção e circulação, seja esta consciente ou não. Neste sentido, podemos dizer que as diversas sociedades e seus grupos constituintes elaboram sobre e praticam a Gestão da Cultura.

No Brasil, a Gestão da Cultura ainda é um campo de estudos e de exercício profissional em processo de consolidação. Para termos uma idéia deste caráter do campo, basta observarmos que remonta a 2001 a criação do primeiro Curso de Produção Cultural, na Universidade Candido Mendes; e de 2005 a criação da Associação Brasileira de Gestão da Cultura.

Podemos identificar três grandes eixos, ou linhas, de compreensão da gestão da cultura, e que estão vinculadas às identidades e compreensões políticas e culturais de seus agentes: uma vertente oficialista, concentrada na esfera das políticas públicas; uma corrente mercadológica, concentrada nas estruturas de mediação e captação de recursos; e uma linha emancipatória, preocupada com a criação de novos canais de produção e circulação, focada nos movimentos sociais e na democratização da estrutura dos Estados.

É notório que o exercício de atividades ligadas à gestão cultural é bem antigo. Nos períodos colonial e imperial, por exemplo, as políticas que procuravam impor a língua portuguesa como linguagem oficial, cercear a imprensa e a circulação literária ou mesmo perseguir as expressões religiosas não católicas podem ser entendidas como ações de gestão cultural da metrópole.

No entanto, e notadamente por serem também produtos de uma perspectiva da gestão da cultura oficialista, uma parte dos estudos acerca do tema no Brasil concentra-se na esfera das políticas públicas e toma a década de 1930 como ponto de referência. Foi neste período que assistimos à criação do Departamento de Cultura da Prefeitura da cidade de São Paulo, sob coordenação de Mario de Andrade (1935-1938); e a criação do Ministério da Educação e da Saúde, notadamente a partir da participação de Gustavo Capanema.

Convém destacar que não foi neste contexto que este campo de estudos, pesquisa e exercício profissional passou a movimentar-se no sentido da consolidação. Este processo só se deu entre os anos 1980-2000 e está em curso ainda hoje.

Neste contexto, convém destacar que data da década de 1980 a criação do Ministério da Cultura, delineando uma relativa autonomia institucional da área; e também da Lei Sarney, que inaugura em nosso País as metodologias de recorte neoliberal para gestão da cultura, isto é, indicando um crescimento das linhas mercadológicas.

Assim, se por um lado a criação do Ministério da Cultura representou um avanço, esta ocorreu no contexto em que as forças políticas que centralizavam o poder de delinear políticas públicas para a área fizeram a opção por subordinar o processo de gestão da cultura ao mercado, primeiro por meio da Lei Sarney, depois por meio da Lei Rouanet.

Desta forma, a emergência do processo de consolidação e profissionalização do campo da gestão cultural em nosso País se deu exatamente no contexto em que diversos grupos de intelectuais e artistas foram induzidos a captar recursos junto a iniciativa privada, que passou a concentrar o poder de seleção dos conteúdos culturais que seriam financiados ou não.

Convém destacar, como nos lembra Emir Sader, que o continente onde o neoliberalismo nasceu – no Chile e na Bolívia – tornou-se, em pouco tempo, o espaço de maior resistência e construção de alternativas a esse mesmo neoliberalismo. São duas faces da mesma moeda: justamente por ter sido laboratório das experiências neoliberais, a América Latina viveu a ressaca dessas experiências e se transformou no elo mais fraco da cadeia neoliberal. (SADER, 2006, p. 32).

A gestão cultural é também parte constituinte deste processo e, considerando este contexto, vimos emergir uma nova identidade no campo. Estamos a nos referir aqueles grupos que compreendem que é preciso que a produção cultural no País não esteja subordinada a lógica do mercado, mas que seja entendida como uma política pública.

Obviamente não estamos a nos referir a políticas públicas construídas a partir de uma perspectiva tecnocrata, oficialista. Referimos-nos aqui a políticas públicas cujo conteúdo é delineado pelos produtores de cultura organizados e o financiamento e a infra-estrutura material viabilizados pelo Estado.

Conferências Nacionais, Estaduais e Municipais de Cultura; Conselhos de Cultura; organização de grupos autônomos em relação ao mercado e ao Estado; estratégias de empoderamento e gestão democrática da cultura são, assim, temas que merecem atenção.

Nesta perspectiva, as leituras e atividades que desenvolveremos na disciplina de Gestão da Cultura, tomam como referência a definição nos oferecida por Nestor Garcia Canclini (2005).

“Los estudios recientes tienden a incluir bajo este concepto al conjunto de intervenciones realizadas por el estado, las instituciones civiles y los grupos comunitarios organizados a fin de orientar el desarrollo simbólico, satisfacer las necesidades culturales de la población y obtener consenso para un tipo de orden o transformación social. Pero esta manera de caracterizar el ámbito de las políticas culturales necesita ser ampliada teniendo en cuenta el carácter transnacional de los procesos simbólicos y materiales en la actualidad” (Canclini, 2005, p.78).

O currículo da disciplina de Gestão da Cultura do Curso de História da UFSM nos aponta quatro eixos de discussão: a política cultural, a pesquisa sócio-cultural, planejamento de ações culturais e elaboração de proposta de projeto na área cultural.

Considerando este, e nos propondo a estabelecer um diálogo crítico, estruturamos os trabalhos em dois blocos, que abarcam os temas apontados no currículo.

No primeiro, discutiremos aspectos teóricos da gestão cultural, por meio de leituras e debates. Neste sentido, são partes constituintes deste os eixos vinculados à política cultural e a pesquisa sócio-cultural, notadamente em seus aspectos teóricos.

Na segunda, estabeleceremos debate com agentes da gestão da cultura da região. Destes diálogos e troca de experiências práticas, pautados pela leitura realizada no primeiro bloco, estarão presentes os itens planejamento de ações culturais e elaboração de proposta de projeto na área cultural, presentes no currículo.

A avaliação dos trabalhos estará inserida no contexto destes dois blocos. De tal forma que faremos resenhas acerca dos textos do primeiro bloco e elaboraremos artigos a partir do debate e construção mais prática do segundo.

O pouco tempo para desenvolver um trabalho acerca de um tema tão provocador e denso, certamente, nos obriga a fazer escolhas, nem sempre fáceis. Assim, será disponibilizada também uma literatura complementar, para todos aqueles que tiverem interesse em aprofundar as discussões.

Este blog, em sendo também um instrumento de troca de impressões, é também um veículo que nos dá mais flexibilidade de troca de idéias, para além dos espaços institucionais apontados pelo currículo e pelo calendário da universidade.

Cronograma de trabalhos

Data

Tema

8/08

Definições de Gestão Cultural

-Apresentação do Currículo

-Planejamento dos trabalhos

15/08

-Definições de Gestão Cultural

-Apresentação do Currículo

-Planejamento dos trabalhos

22/08

-Cultura, classes e senso comum: introdução às funções dos intelectuais em sociedades de classes

29/08

-Aspectos teóricos das funções dos intelectuais em sociedades de classes

5/09

-Aspectos gerais da cultura brasileira

12/09

-História da Gestão Cultural no Brasil

19/09

- Aspectos teóricos das funções dos intelectuais em sociedades de classes

26/09

- Mercado da cultura e consumo

3/10

-Indústria Cultural

10/10

-A cultura popular

17/10

-Cibercultura

24/10

-Cultura e Pós - modernidade

31/10

-Cultura e contra hegemonia

7/11

-Cultura e Política Cultural

14/11

-Debate com agentes convidados

- 1° Avaliação: Entrega de uma resenha dos textos estudados

21/11

-Debate com agentes convidados

28/11

-2° Avaliação: Entrega de artigo de avaliação;

- Avaliação coletiva dos trabalhos

Onde acessar os materiais para cada atividade?

Data

Tema

22/8

Filme: “You Don’t Know Jack

Assista!

http://filmestododia.com/2010/05/download-you-don%E2%80%99t-know-jack-dvdrip-avi-legenda/

29/8

Livro: Os intelectuais e a organização da cultura; Antonio Gramsci

Capítulos 2 e 3

Leia!

http://www.4shared.com/document/9j7eH9py/Livro_-_Os_Intelectuais_e_a_Or.html

5/9

Artigo: Cultura brasileira e culturas brasileiras, Alfredo Bosi

Leia!

www.ufrgs.br/cdrom/bosi/bosi.pdf

12/9

Artigo: Políticas Culturais no Brasil: trajetória e contemporaneidade, Antônio Rubim

Leia !

http://documentos-fgb.blogspot.com/2008/11/polticas-culturais-no-brasil-trajetria.html

19/9

Livro: Literatura e Revolução – Leon Trotsky

Introdução, capítulos 1 e 8

Leia!

http://www.mediafire.com/?4k9f7n1l12a9h3y

26/9

Capítulo de Livro: Economia das trocas simbólicas, Pierre Bourdieu.

Capítulo 4.

Leia!

http://www.4shared.com/document/pb6gCDxt/BOURDIEU_Pierre_Economia_das_t.html

3/10

Artigo: Indústria Cultura e meios de comunicação de massa

Leia!

www.cra-rj.org.br/site/espaco_opiniao/arquivos/art045.pdf

Artigo: A Escola de Frankfurt e a Questão da Cultura, Renato Ortiz

Leia!

http://ebookbrowse.com/gdoc.php?id=90627125&url=5ceaf40c2a883e1b5d23a08559fa9de6

Artigo: Theodor Adorno e a Crítica a Indústria Cultural

Leia!

http://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:t60COg-NhgEJ:www.cebela.org.br/imagens/Materia/229-233%2520mariana%2520baierle%2520soares.pdf+Theodor+Adorno+e+a+Cr%C3%ADtica+a+Ind%C3%BAstria+Cultural+%E2%80%93+Mariana+Soares&hl=pt-BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEESgdclUQfAXYazHdfyhP4SFvbg5c-dHdnfL4CZi7TDfhR9D-aMQb9BqdIvgKi__G4fdvTWfpE7WHNSb1IwM_pDQ6GW2Df5oefVnNcLgmbAJf5Dt216MQmmhp3c_Sh9wSwilq9b2C&sig=AHIEtbS-MtwrQA2XphphfWx_SJG-oIxhvQ

10/10

Artigo: Cultura Popular – entre a tradição e a transformação

Leia!

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392001000200005

Capítulo de Livro: Cultura e Democracia, Marilena Chauí

Leia!

bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/secret/CyE/cye3S2a.pdf

17/10

Artigo: O estranhamento cultural, Aline Matos ett all

Leia!

www.ronizealine.eti.br/download/oestranhamentocultural.pdf

Capitulo de Livro: Cyber Cultura, Pierre Lévy.

Capítulo 14

Leia!

http://www.4shared.com/document/-up_R703/Cibercultura_PIERRE_LEVY.html

24/10

Capítulo de Livro: A modernidade liquida, Zygmunt Bauman

Capítulo 2

Leia!

http://www.filecrop.com/MODERNIDADE-LIQUIDA.html

Capítulo de Livro: Culturas Hibridas, Nestor Garcia Canclini

Capítulo 4

Leia!

http://search.4shared.com/search.html?searchmode=2&searchName=CANCLINI%2C+Nestor+Garc%C3%ADa+-+O+Porvir+do+Passado+in++Culturas+h%C3%ADbridas

31/10

Livro: Nuevas economías de la cultura

Divisão dos artigos entre a turma, cada um deve escolher um capítulo.

Leia!

http://industriasculturaisecriativas.blogs.sapo.pt/8508.html

7/11

Livro: Economia da Cultura

Capítulo 10

Leia!

http://www.gestaocultural.org.br/livros-online-economia-da-cultura.asp