quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Laboratório de Prática de Ensino de História Entrevista com Camila


“A classe dominante não tem interesse em mudar a educação”

O peso de seus argumentos em programas de televisão, a clareza de suas intervenções diante das autoridades e a capacidade inata de aglutinar as massas, converteram Camila Vallejo na líder mais visível deste movimento que já derrubou um ministro e jogou o governo de Sebastián Piñera nas cordas. Usando um jeans surrado, um lenço artesanal no pescoço, um piercing no nariz e esse olhar que esconde uma das mentes políticas mais brilhantes que apareceram no Chile nos últimos anos, Camila concedeu uma entrevista exclusiva a Christian Palma, correspondente da Carta Maior em Santiago do Chile.

Data: 02/09/2011

Há três meses, Camila Vallejo, a carismática presidenta da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (Fech), podia tomar um metrô tranquilamente e caminhar sem chamar a atenção mais do que qualquer outra mulher chilena. Nesse tempo, os estudantes universitários e secundaristas iniciavam um movimento sem precedentes que inclui até hoje ocupações e greves nas escolas do país e diversas marchas pelas principais cidades chilenas pedindo fundamentalmente o fim do lucro no sistema educacional, mais qualidade nos conteúdos ministrados nas salas de aula e gratuidade completa na educação pública.

Ela, com paciência, visitava os colégios explicando ponto por ponto as razões das reivindicações estudantis e parava para conversar com os jornalistas com calma. Foi em um desses eventos que a conheci. Usando um jeans surrado, um lenço artesanal no pescoço, um piercing no nariz e esse olhar que esconde uma das mentes políticas mais brilhantes que apareceram no Chile nos últimos anos, trocamos algumas palavras.

A revolução estudantil se incendiou, os argumentos dos estudantes foram entendidos e valorizados pela cidadania e Camila Vallejo demonstrou que é muito mais do que um rosto bonito. O peso de seus argumentos em programas de televisão, a clareza de suas intervenções diante das autoridades e a capacidade inata de aglutinar as massas, converteram Camila na líder mais visível deste movimento que já derrubou um ministro e obrigou o governo de direita de Sebastián Piñera a oferecer três alternativas para destravar o conflito. Mas nenhuma delas satisfez os estudantes.

Tamanha foi a pressão sobre o governo, que o próprio Piñera chamou os jovens para uma conversa neste sábado no palácio de La Moneda. Um dia antes deste convite que pode marcar o início do fim da crise, Camila Vallejo, achou um espaço em sua agenda e concedeu esta entrevista exclusiva à Carta Maior, recém chegada de Brasília, onde se reuniu com seus pares brasileiros. Ela reconhece que tem tempo apenas para comer.

Considerando as dezenas de pedidos de entrevistas solicitadas por meios de comunicação chilenos e estrangeiros, interessados nesta jovem mulher, alguns minutos com ela são um luxo.

Estrela das redes sociais – como boa parte de sua geração – convocou milhares por meio do Facebook e do Twitter, mas também foi ameaçada de morte ou insultada covardemente pela web. Tranquila, diz que está consciente dos riscos que isso significa, mas, mais importante ainda, sabe a tremenda responsabilidade que passa a ter com apenas 23 anos.

Senhoras e senhores, com vocês Camila Antonia Amaranta Vallejo Dowling, a menina que jogou o governo de direita de Sebastian Piñera nas cordas. Saiba por que.

- Você diz que as demandas estudantis não são um assunto de direita ou esquerda, mas sim de toda a sociedade chilena. Acredita que a cidadania entendeu isso?

Este movimento alcançou uma massividade e uma transversalidade que nunca tinham sido vistas desde o retorno à democracia (1990). Uma enorme parcela daqueles que, em um determinado momento, apoiaram Piñera, hoje se dá conta de que este não é um ataque direto à sua posição, mas sim a um modelo de educação que concebe a educação como um bem de mercado e não como um direito, e também a um sistema democrático que hoje, se reconhece , é muito estreito.

O questionamento à conduta do governo, inclusive de cidadãos que pertencem a setores que, em um determinado momento, apoiaram o atual presidente, deixa evidente que existe o entendimento de que a luta que hoje travamos é pelo direito à educação e por uma mudança de sistema que beneficie toda a sociedade e o desenvolvimento do Chile. Ela não se limita a buscar benefícios para um setor político particular.

O movimento se polarizou entre direita e esquerda. Isso é prejudicial?

Para entender esse conflito é preciso analisá-lo a partir de duas perspectivas. Por um lado, é preciso considerar que, junto à população, a problemática educacional se transversalizou de uma forma nunca vista, o que tem gerado um apoio massivo ao movimento vindo de diversos setores e atores ligados à educação. Por outro lado, temos um setor muito mais minoritário e ideológico representado pelas classes dominantes, que não estão interessadas em uma mudança na educação, tanto porque o atual sistema beneficia diretamente seus bolsos, como porque ele os mantêm em sua posição de privilegiados frente a uma população com fraca educação. A polarização de duas grandes alternativas educacionais é produto da postura intransigente desse setor. Ou seja, a polarização não se encontra no interior do movimento estudantil – que tem sabido priorizar a unidade atuando de forma conjunta -, mas sim representa uma enorme contradição entre as mudanças que a cidadania está exigindo hoje frente uma minoria conservadora cujos interesses são representados pelo Executivo.

Qual a consistência deste movimento para resistir às artimanhas urdidas no espectro político da direita e também do governo?

Hoje o movimento conta com uma série de fortalezas, tais como a amplitude que ultrapassa o meramente estudantil e o transforma em um movimento social; a unidade dos diferentes atores ligados ao mundo educacional, que após um longo processo conseguiram conjugar esforços em torno de pautas unificadas; a representatividade dos anseios da cidadania, na medida em que tem ocorrido processos democráticos por meio dos quais se definem as melhores estratégias a utilizar; e, finalmente, conta com a experiência histórica dos diferentes movimentos que nos precederam como o foi o movimento estudantil dos “pinguins” (estudantes secundaristas) de 2006.

O movimento se vale de todas essas ferramentas para fazer frente às diferentes artimanhas que podem surgir tanto da articulação da direita como do governo, as quais, até aqui, temos sabido enfrentar.

Atuação do governo

Para entender um pouco mais o sistema educacional chileno e por que a direita não quer transformá-lo é preciso ter em mente que há três tipos de escolas de educação superior herdados da ditadura de Pinochet. Há os centros de formação técnica, os institutos profissionais e as universidades que se dividem em tradicionais, com aportes do Estado, e privadas. O ingresso nelas passa por uma prova de conhecimentos e, para os que não têm dinheiro, há um sistema de créditos outorgados pelo setor privado quase sem nenhuma regulação e com juros altíssimos. Em 2006, a presidenta Michelle Bachelet se complicou com a “Revolução dos Pinguins” que mobilizou só os estudantes secundaristas. Eles receberam promessas que não foram cumpridas e agora, com 80% da cidadania aprovando as mobilizações, o governo de Piñera recebeu os protestos na sua porta.

Qual sua avaliação sobre a atuação do governo no tema? Não deu resposta às suas demandas, faz declarações infelizes saindo da boca do próprio presidente (“não há nada grátis na vida”, “as pedras nos levaram à ruptura da democracia”) e tenta dar um perfil violento às marchas (com infiltração de policiais).

O governo não está escutando a cidadania, o que mostra que está disposto a seguir defendendo intransigentemente seu modelo educativo, inclusive assumindo o custo de omitir o que o povo tem demandado massivamente durante mais de três meses.

Não contente com isso, tem explorado ao máximo as ferramentas com as quais conta o governo e a direita chilena – meios de comunicação, força policial e militar, respaldo dos grandes grupos econômicos – para deslegitimar o movimento, baseando-se na mentira por trás de estratégias populistas.

A pressão social que este movimento conseguiu acumular obrigou Piñera a mostrar do que é feito este governo, quais são os limites democráticos que ele está disposto a cruzar e quem representa realmente, o que constitui um enorme desprestígio e desaprovação de sua gestão, o que já foi expresso nas últimas pesquisas que, historicamente, eles mesmos têm validado.

O questionamento à incapacidade de manejar a demanda social por uma educação pública gratuita e de qualidade para todos alcança novos níveis na medida em que o grau de repressão ultrapassou qualquer limite de tolerância de um Estado de Direito. Durante esses meses de protesto, temos sido testemunhas de aberrantes abusos por parte do corpo policial, sob ordens do Executivo, através do Ministro do Interior e Segurança Pública, Rodrigo Hinzpeter, o que atingiu seu ápice com a morte de um estudante na semana passada.

Qual sua opinião sobre o papel da Concertação (oposição) em tudo isso?

A Concertação desemprenhou um papel bastante oportunista tentando
obter ganhos políticos com o que ocorre hoje no país. Neste sentido vemos hoje representantes dessa coletividade criticando o modelo educacional, como, por exemplo, o ex-presidente Ricardo Lagos que diz “que o modelo não já não aguenta mais”, esquecendo-se que foram eles mesmos que administraram e aprofundaram a mercantilização da educação e que, por outro lado, um importante setor dessa organização é formado por proprietários de colégios, por investidores no negócio da educação superior.

Apesar disso, dado o nível de participação que a Concertação tem no Parlamento, corresponde a eles agora responder a altura de suas declarações em favor do movimento. Ou seja, devem assegurar que os projetos de lei que surgiram dessas mobilizações representem integralmente o que as demandas sociais estabeleceram e, por motivo nenhum, devem voltar a negociar pelas costas do movimento, como terminou ocorrendo com o processo da Revolução dos Pinguins de 2006.

Com a foice e o martelo no coração

Camila Vallejo é filha de ex-militantes allendistas e referência das Juventudes Comunistas. Na atualidade, foi obrigada a congelar a tese para se formar em geografia. Ela não reconhece abertamente, mas tampouco descarta seguir uma carreira política.

Já pensou em seguir sendo dirigente no futuro, ainda mais em um país carente de líderes jovens?

Sobre o meu futuro, tenho dito que tenho um projeto pessoal de caráter acadêmico, ou seja, gostaria de terminar meu curso e seguir neste caminho. No entanto, concebo os cargos de representação como uma responsabilidade e de modo algum como um privilégio, pelo que, a priori, não posso dizer que não continuarei tendo cargos de representação popular.

Alguns dirigentes estudantis internacionais olham com especial atenção para o Chile, depositam esperança neste movimento e estão atentos para que as conquistas não sejam perdidas. Como avalia essa tremenda responsabilidade?

Creio que a esperança de que as conquistas desse movimento não sejam perdidas, assim como a responsabilidade por elas é compartilhada pela totalidade dos envolvidos. Se é verdade que, às vezes, minha pessoa é transformada em ícone do movimento, temos claro que a sua construção é uma conquista que pertence a todos. Confio que temos feito as coisas corretamente, o que é demonstrado pelo incrível apoio cidadão que nos acompanha três meses depois de iniciada essa mobilização. Sob estas condições, se o governo não tiver suas demandas satisfeitas, isso será responsabilidade da intransigência do governo e da traição da cidadania por parte da direita chilena, o que não estamos dispostos a tolerar.

O que te parece o modelo educacional de Lula (ProUni) que estabelece um mecanismo de bolsas de estudo para estudantes de universidades privadas com finalidade lucrativa, mas que está dirigido especialmente para estudantes de baixa renda e é financiado com isenções fiscais para esses estabelecimentos?

Para além do detalhe técnico das propostas, o que hoje estamos defendendo no Chile são ideias políticas muito concretas. E o fim do lucro na educação é uma das consignas que teve maior adesão da cidadania. A própria lei chilena de Educação criada na ditadura proíbe o fim do lucro em todas as universidades. O cumprimento dessa lei é um dever que esse governo descumpriu grosseiramente e que, após essa mobilização, não nos contentaremos com a continuidade dessa situação. É preciso avançar na direção da proibição do lucro em todo o sistema educacional, desde o pré-escolar a todos os setores de educação superior, assegurando sanções para aqueles que descumprirem esta lei e para aqueles que fizeram isso durante os últimos 30 anos.

Qual sua impressão sobre o apoio dos trabalhadores às mobilizações estudantis e sobre a convocação de outra mobilização massiva para 8 de setembro?

O fato de os trabalhadores apoiarem as mobilizações é algo fundamental para cada processo histórico revolucionário, pois como sujeito histórico o trabalhador que hoje se encontra diretamente explorado pelo processo produtivo sobre o qual se sustenta nossa sociedade capitalista neoliberal.

Se nós, jovens estudantes, somos chamados a gerar e fomentar as mudanças, temos que ter claro que estas devem se realizar junto aos trabalhadores, pois são eles, finalmente, o real motor da história.

Você sofreu críticas e ataques maliciosos. Você disse que eles fazem parte do jogo, mas alguns ultrapassam todos os limites, como o de que é manipulada pelo Partido Comunista. O que diz sobre isso?

Efetivamente, eu sou militante das Juventudes Comunistas do Chile e isso é algo que nunca escondi, muito pelo contrário, é algo do que sinto muito orgulho, pois é uma grande escola que me permitiu crescer e desenvolver-me politicamente.

Além disso, é de se esperar que, na atual situação, aqueles que não estão à altura do conflito busquem argumentos como estes para atacar, não somente a mim, mas também ao resto dos dirigentes. Mas o certo é que hoje eu represento não só os estudantes da Universidade do Chile, cuja Federação presido, mas também me toca ser a voz de todos os estudantes do Chile, enquanto porta-voz da Confederação de Estudantes do Chile (Confech) e a legitimidade que tanto os estudantes como a cidadania concederam a meu desempenho evidencia que essas acusações não passam de sujas estratégias desesperadas de quem, como disse anteriormente, não tem sido capaz de ganhar o debate.

Tradução: Katarina Peixoto

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

GESTÃO CULTURAL

É notório que as diversas expressões culturais, como produtos sociais, são derivadas de algum tipo de organização de sua produção e circulação, seja esta consciente ou não. Neste sentido, podemos dizer que as diversas sociedades e seus grupos constituintes elaboram sobre e praticam a Gestão da Cultura.

No Brasil, a Gestão da Cultura ainda é um campo de estudos e de exercício profissional em processo de consolidação. Para termos uma idéia deste caráter do campo, basta observarmos que remonta a 2001 a criação do primeiro Curso de Produção Cultural, na Universidade Candido Mendes; e de 2005 a criação da Associação Brasileira de Gestão da Cultura.

Podemos identificar três grandes eixos, ou linhas, de compreensão da gestão da cultura, e que estão vinculadas às identidades e compreensões políticas e culturais de seus agentes: uma vertente oficialista, concentrada na esfera das políticas públicas; uma corrente mercadológica, concentrada nas estruturas de mediação e captação de recursos; e uma linha emancipatória, preocupada com a criação de novos canais de produção e circulação, focada nos movimentos sociais e na democratização da estrutura dos Estados.

É notório que o exercício de atividades ligadas à gestão cultural é bem antigo. Nos períodos colonial e imperial, por exemplo, as políticas que procuravam impor a língua portuguesa como linguagem oficial, cercear a imprensa e a circulação literária ou mesmo perseguir as expressões religiosas não católicas podem ser entendidas como ações de gestão cultural da metrópole.

No entanto, e notadamente por serem também produtos de uma perspectiva da gestão da cultura oficialista, uma parte dos estudos acerca do tema no Brasil concentra-se na esfera das políticas públicas e toma a década de 1930 como ponto de referência. Foi neste período que assistimos à criação do Departamento de Cultura da Prefeitura da cidade de São Paulo, sob coordenação de Mario de Andrade (1935-1938); e a criação do Ministério da Educação e da Saúde, notadamente a partir da participação de Gustavo Capanema.

Convém destacar que não foi neste contexto que este campo de estudos, pesquisa e exercício profissional passou a movimentar-se no sentido da consolidação. Este processo só se deu entre os anos 1980-2000 e está em curso ainda hoje.

Neste contexto, convém destacar que data da década de 1980 a criação do Ministério da Cultura, delineando uma relativa autonomia institucional da área; e também da Lei Sarney, que inaugura em nosso País as metodologias de recorte neoliberal para gestão da cultura, isto é, indicando um crescimento das linhas mercadológicas.

Assim, se por um lado a criação do Ministério da Cultura representou um avanço, esta ocorreu no contexto em que as forças políticas que centralizavam o poder de delinear políticas públicas para a área fizeram a opção por subordinar o processo de gestão da cultura ao mercado, primeiro por meio da Lei Sarney, depois por meio da Lei Rouanet.

Desta forma, a emergência do processo de consolidação e profissionalização do campo da gestão cultural em nosso País se deu exatamente no contexto em que diversos grupos de intelectuais e artistas foram induzidos a captar recursos junto a iniciativa privada, que passou a concentrar o poder de seleção dos conteúdos culturais que seriam financiados ou não.

Convém destacar, como nos lembra Emir Sader, que o continente onde o neoliberalismo nasceu – no Chile e na Bolívia – tornou-se, em pouco tempo, o espaço de maior resistência e construção de alternativas a esse mesmo neoliberalismo. São duas faces da mesma moeda: justamente por ter sido laboratório das experiências neoliberais, a América Latina viveu a ressaca dessas experiências e se transformou no elo mais fraco da cadeia neoliberal. (SADER, 2006, p. 32).

A gestão cultural é também parte constituinte deste processo e, considerando este contexto, vimos emergir uma nova identidade no campo. Estamos a nos referir aqueles grupos que compreendem que é preciso que a produção cultural no País não esteja subordinada a lógica do mercado, mas que seja entendida como uma política pública.

Obviamente não estamos a nos referir a políticas públicas construídas a partir de uma perspectiva tecnocrata, oficialista. Referimos-nos aqui a políticas públicas cujo conteúdo é delineado pelos produtores de cultura organizados e o financiamento e a infra-estrutura material viabilizados pelo Estado.

Conferências Nacionais, Estaduais e Municipais de Cultura; Conselhos de Cultura; organização de grupos autônomos em relação ao mercado e ao Estado; estratégias de empoderamento e gestão democrática da cultura são, assim, temas que merecem atenção.

Nesta perspectiva, as leituras e atividades que desenvolveremos na disciplina de Gestão da Cultura, tomam como referência a definição nos oferecida por Nestor Garcia Canclini (2005).

“Los estudios recientes tienden a incluir bajo este concepto al conjunto de intervenciones realizadas por el estado, las instituciones civiles y los grupos comunitarios organizados a fin de orientar el desarrollo simbólico, satisfacer las necesidades culturales de la población y obtener consenso para un tipo de orden o transformación social. Pero esta manera de caracterizar el ámbito de las políticas culturales necesita ser ampliada teniendo en cuenta el carácter transnacional de los procesos simbólicos y materiales en la actualidad” (Canclini, 2005, p.78).

O currículo da disciplina de Gestão da Cultura do Curso de História da UFSM nos aponta quatro eixos de discussão: a política cultural, a pesquisa sócio-cultural, planejamento de ações culturais e elaboração de proposta de projeto na área cultural.

Considerando este, e nos propondo a estabelecer um diálogo crítico, estruturamos os trabalhos em dois blocos, que abarcam os temas apontados no currículo.

No primeiro, discutiremos aspectos teóricos da gestão cultural, por meio de leituras e debates. Neste sentido, são partes constituintes deste os eixos vinculados à política cultural e a pesquisa sócio-cultural, notadamente em seus aspectos teóricos.

Na segunda, estabeleceremos debate com agentes da gestão da cultura da região. Destes diálogos e troca de experiências práticas, pautados pela leitura realizada no primeiro bloco, estarão presentes os itens planejamento de ações culturais e elaboração de proposta de projeto na área cultural, presentes no currículo.

A avaliação dos trabalhos estará inserida no contexto destes dois blocos. De tal forma que faremos resenhas acerca dos textos do primeiro bloco e elaboraremos artigos a partir do debate e construção mais prática do segundo.

O pouco tempo para desenvolver um trabalho acerca de um tema tão provocador e denso, certamente, nos obriga a fazer escolhas, nem sempre fáceis. Assim, será disponibilizada também uma literatura complementar, para todos aqueles que tiverem interesse em aprofundar as discussões.

Este blog, em sendo também um instrumento de troca de impressões, é também um veículo que nos dá mais flexibilidade de troca de idéias, para além dos espaços institucionais apontados pelo currículo e pelo calendário da universidade.

Cronograma de trabalhos

Data

Tema

8/08

Definições de Gestão Cultural

-Apresentação do Currículo

-Planejamento dos trabalhos

15/08

-Definições de Gestão Cultural

-Apresentação do Currículo

-Planejamento dos trabalhos

22/08

-Cultura, classes e senso comum: introdução às funções dos intelectuais em sociedades de classes

29/08

-Aspectos teóricos das funções dos intelectuais em sociedades de classes

5/09

-Aspectos gerais da cultura brasileira

12/09

-História da Gestão Cultural no Brasil

19/09

- Aspectos teóricos das funções dos intelectuais em sociedades de classes

26/09

- Mercado da cultura e consumo

3/10

-Indústria Cultural

10/10

-A cultura popular

17/10

-Cibercultura

24/10

-Cultura e Pós - modernidade

31/10

-Cultura e contra hegemonia

7/11

-Cultura e Política Cultural

14/11

-Debate com agentes convidados

- 1° Avaliação: Entrega de uma resenha dos textos estudados

21/11

-Debate com agentes convidados

28/11

-2° Avaliação: Entrega de artigo de avaliação;

- Avaliação coletiva dos trabalhos

Onde acessar os materiais para cada atividade?

Data

Tema

22/8

Filme: “You Don’t Know Jack

Assista!

http://filmestododia.com/2010/05/download-you-don%E2%80%99t-know-jack-dvdrip-avi-legenda/

29/8

Livro: Os intelectuais e a organização da cultura; Antonio Gramsci

Capítulos 2 e 3

Leia!

http://www.4shared.com/document/9j7eH9py/Livro_-_Os_Intelectuais_e_a_Or.html

5/9

Artigo: Cultura brasileira e culturas brasileiras, Alfredo Bosi

Leia!

www.ufrgs.br/cdrom/bosi/bosi.pdf

12/9

Artigo: Políticas Culturais no Brasil: trajetória e contemporaneidade, Antônio Rubim

Leia !

http://documentos-fgb.blogspot.com/2008/11/polticas-culturais-no-brasil-trajetria.html

19/9

Livro: Literatura e Revolução – Leon Trotsky

Introdução, capítulos 1 e 8

Leia!

http://www.mediafire.com/?4k9f7n1l12a9h3y

26/9

Capítulo de Livro: Economia das trocas simbólicas, Pierre Bourdieu.

Capítulo 4.

Leia!

http://www.4shared.com/document/pb6gCDxt/BOURDIEU_Pierre_Economia_das_t.html

3/10

Artigo: Indústria Cultura e meios de comunicação de massa

Leia!

www.cra-rj.org.br/site/espaco_opiniao/arquivos/art045.pdf

Artigo: A Escola de Frankfurt e a Questão da Cultura, Renato Ortiz

Leia!

http://ebookbrowse.com/gdoc.php?id=90627125&url=5ceaf40c2a883e1b5d23a08559fa9de6

Artigo: Theodor Adorno e a Crítica a Indústria Cultural

Leia!

http://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:t60COg-NhgEJ:www.cebela.org.br/imagens/Materia/229-233%2520mariana%2520baierle%2520soares.pdf+Theodor+Adorno+e+a+Cr%C3%ADtica+a+Ind%C3%BAstria+Cultural+%E2%80%93+Mariana+Soares&hl=pt-BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEESgdclUQfAXYazHdfyhP4SFvbg5c-dHdnfL4CZi7TDfhR9D-aMQb9BqdIvgKi__G4fdvTWfpE7WHNSb1IwM_pDQ6GW2Df5oefVnNcLgmbAJf5Dt216MQmmhp3c_Sh9wSwilq9b2C&sig=AHIEtbS-MtwrQA2XphphfWx_SJG-oIxhvQ

10/10

Artigo: Cultura Popular – entre a tradição e a transformação

Leia!

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392001000200005

Capítulo de Livro: Cultura e Democracia, Marilena Chauí

Leia!

bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/secret/CyE/cye3S2a.pdf

17/10

Artigo: O estranhamento cultural, Aline Matos ett all

Leia!

www.ronizealine.eti.br/download/oestranhamentocultural.pdf

Capitulo de Livro: Cyber Cultura, Pierre Lévy.

Capítulo 14

Leia!

http://www.4shared.com/document/-up_R703/Cibercultura_PIERRE_LEVY.html

24/10

Capítulo de Livro: A modernidade liquida, Zygmunt Bauman

Capítulo 2

Leia!

http://www.filecrop.com/MODERNIDADE-LIQUIDA.html

Capítulo de Livro: Culturas Hibridas, Nestor Garcia Canclini

Capítulo 4

Leia!

http://search.4shared.com/search.html?searchmode=2&searchName=CANCLINI%2C+Nestor+Garc%C3%ADa+-+O+Porvir+do+Passado+in++Culturas+h%C3%ADbridas

31/10

Livro: Nuevas economías de la cultura

Divisão dos artigos entre a turma, cada um deve escolher um capítulo.

Leia!

http://industriasculturaisecriativas.blogs.sapo.pt/8508.html

7/11

Livro: Economia da Cultura

Capítulo 10

Leia!

http://www.gestaocultural.org.br/livros-online-economia-da-cultura.asp

domingo, 11 de setembro de 2011

Apresentação: do útil ao chocolate.


Nos últimos anos a internet vem cada vez mais se constituindo como um instrumento estratégico de aperfeiçoamento dos trabalhos coletivos por viabilizar fóruns permanentes de socialização de materiais e troca de experiências. Há já algum tempo me sinto provocado a desenvolver um espaço virtual que qualifique as discussões e invenções práticas que venho desenvolvendo junto com alunos (as) dos espaços educacionais institucionais e com educandos (as) dos movimentos populares rurais e urbanos com os quais venho interagindo.

Esta provocação sempre esbarrou em minhas ignorâncias digitais, na dificuldade em encontrar tempo para alimentar uma página com certa periodicidade ou pelo fato de uma parte significativa dos agentes com os quais interajo encontrarem-se sem condições de acesso a internet. Neste contexto, sempre procurei fazer uso de outros recursos, no mais das vezes sem a qualidade que um espaço virtual viabiliza.

No primeiro semestre de 2011, ao realizar uma avaliação dos trabalhos do primeiro semestre com o grupo de Introdução a História do Curso de Arquivologia da Universidade Federal de Santa Maria esta provocação novamente se fez presente: observamos naquela oportunidade que um blog, com toda a simplicidade que tem, seria um instrumento que poderia concentrar materiais que vinhamos utilizando em nossos trabalhos e que, no mais das vezes, não estão disponíveis nos circuitos tradicionais do mercado cultural.

Ao mesmo tempo, é perceptível que uma abordagem do processo educativo que não se restrinja a concepções tradicionais, mas que tome como referência uma visão socialmente mais ampla e generosa da experiência humana, esbarra sistematicamente no descompasso entre as hierarquias e rotinas existentes entre a vida cotidiana de seus agentes, dos movimentos sociais populares e as instituições educacionais. No mais das vezes, este descompasso é produto mesmo de uma pretensão deliberada das hierarquias e rotinas das instituições privadas ou estatais em projetarem-se sobre as outras dimensões da vida comunitária.

Este descompasso sempre representa um obstáculo para ações aparentemente simples, como encontros e trocas de experiências: a este respeito um blog novamente se apresentou como um instrumento operacional paliativo.

Estes elementos me provocaram a enfrentar minhas ignorâncias digitais e abrir este espaço de troca de materiais, ideias e experiências. Aqui estarão disponíveis as agendas e registros de atividades e seus materiais. Ao mesmo tempo é um espaço onde todos os agentes podem contribuir com ideias, provocações, propostas e materiais.

A abertura deste veículo de trocas e construções me traz a recordação da descrição de um certo Chico a sua personagem Abá, ao ser provocada por Juvenal, no sugestivo romance Fazenda Modelo – novela pecuária, de 1974.

“Não é mais criança. Já pretendeu, sim, organizar um mundo a partir do sentimento que sua gente tem dentro sem conhecer. Quis conhecer a nova forma de vida, uma norma nossa que não fosse essa e nem aquela e não dá para explicar, porque a gente tem isso muito dentro, muito sem conhecer mas tem. Um tumor benigno que, localizado, é pedra filosofal que transforma o ouro em chocolate, em qualquer coisa útil ou amável. Uma ideia gorda e talvez uma ideia incomoda porque absorve ou rejeita ideias velhas, algo assim ou não como uma sabedoria mulata. Nada que mulata que inglês viu e bolinou. Outra surpresa tão mestiça que única, total, tutano que inglês não realiza nem supõe, teme o contágio. Mas percebe-se que tais conceitos sempre se confundiam no momento exato da expressão. No dia D, na hora H, no X do problema Abá tropeçava misteriosamente. Guaguejava, engasgava, ficava zarolho, insistia. Retomava do princípio, o sentimento, a pedra, o tumor, o tutano, o sonho coletivo, o nexo sem palavra, a ante-ginga mulata. E esbarrava sempre na ante-sala do carnaval, a explosão abafada sob a redoma invisível.

Enquanto isso os invisíveis se divertiam da gente andar meio de lado, sacudindo, balanço que não é dança, é o desengonço da nossa bitola nos trilhos que não são nossos. Os invisíveis gostavam. Riam de nós plantando goiaba e comendo só goiabada. Riam muito da gente ser risonha até quando pega fogo. E agora os indivisíveis, que sempre se interessaram na nossa bagunça, resolvem patrocinar a nova ordem, que não é nova nem nossa. Os indivisíveis gozam de haveres e poderes na Fazenda, senão por escritura, ao menos por usucapião. Juvenal preposto, preboste, convoca Abá. Abá já não é mais criança, paga para ver.”

Em suma, este espaço é de todos aqueles que, nesta Fazenda, estão interessados em construir a nossa norma, em trilhos de bitolas que são nossas. É de todos aqueles que, como eu, prezam por seus próprios tutanos e, na ânsia de transformar ouro em chocolate, pretendem ser menos zarolhos e mais comprometidos em entender como funcionam as redomas invisíveis e materiais que nos fazem gaguejar e tropeçar no dia D e na hora H, e nos impedem de transformar as coisas uteis em coisas amáveis.

É de todos (as) Abás que das redomas invisíveis que nos fazem desengonçados andar, estão mais desejosos de arrebentá-las ao meio. É daqueles que pagam para ver!